A solidão, o perdão e a morte em The Midnight Gospel.
Escrito por Gabrielly Vitória.
Aviso: Contém spoilers do começo do quarto episódio e algumas falas (que estão entre aspas) dos personagens. Recomendo assisti-lo e depois voltar aqui, caso se importe muito com isso assim como eu.
The Midnight Gospel é uma das novas séries de animação da Netflix que tem sido bem avaliada por todos que assistiram com seu design de personagens um tanto simples mas extremamente bonito e junto de um cenário rico em cores e detalhes e com um enredo incrível.

Enquanto eu assistia a série alguns dias atrás, um episódio que me cativou muito foi o quarto que tem como título “Ordenhando um corvo”. O simulador encontra um planeta chamado Mercurita onde aparentemente todos os humanos atingiram um estado de harmonia máxima e vivem super felizes e satisfeitos. Perfeito para escapar da realidade, Clancy inicia a simulação, porém um pequeno imprevisto faz com que sua rota seja desviada e ele acaba caindo em um mundo totalmente oposto a Mercurita. Ao encontrar Trudy, personagem que acompanhará Clancy, ambos partem em uma jornada junto para obter certo item e, durante o caminho, começam a falar do assunto do meu texto hoje, o perdão, a solidão e um pouco sobre a morte.
Para Trudy, o perdão é algo leve, que livra a alma de sofrimentos e dores até mesmo inúteis e que não vão ter qualquer tipo de retorno positivo. “Não vamos amar nosso inimigo, mas não precisamos passar a vida inteira obcecados com o mal que nos foi causado” ela diz. Em algumas ocasiões, o melhor que podemos fazer é simplesmente perdoar. Não é algo simples dependendo do motivo, é necessário algum tipo de apoio principalmente de pessoas próximas para que você realmente possa enxergar que aquilo vai te ajudar e não demonstrar fraqueza, porque nós só vamos nos auto sabotar se ficarmos remoendo aquela raiva, amargura e, consequentemente, vamos ficando mais chatos e sem paciência com pessoas que às vezes não tem nada a ver com aquilo. Se livre de coisas desnecessárias que fazem você se sentir mal e diga “Eu te perdoo”.
Solidão. Isso é algo um tanto relativo já que você pode estar cercado de pessoas e se sentir assim e, ao mesmo tempo, é algo que pode desvanecer com a mínima ligação de alguém que você menos espera ou que você achava que não se importava. Temos um sensor pra perceber quando alguém realmente está nos ouvindo. Às vezes você está desabafando com alguém e, só de reparar nos olhos daquela pessoa, dá para perceber que ela se perdeu dentro de sua própria mente e nos seus pensamentos. Talvez seja por isso que muita gente guarde sentimentos e dúvidas dentro de si. Porque já passaram por experiências assim e acham que ninguém vai escutá-las. Eu, por exemplo, sou uma boa ouvinte, mas muitas vezes não sei aconselhar. Porém acho que só de ter a sensação de que alguém realmente se importou com o que você falava já deva ser algo aliviador. Uma das coisas que me ajudou muito quando eu estava com essa onda de me sentir solitária foi encontrar pessoas virtualmente e, por algum motivo, elas tendem a ser receptivas quanto a isso, principalmente as que se identificam com as suas sensações e, se você for tímido(a),, acaba matando dois coelhos com uma “caixa d’água”. “Se você tem um lugar, talvez devêssemos começar um.”
“A hora da morte é incerta, mas a morte é certa”. É muito difícil estarmos realmente preparados para a morte, já que não sabemos o que acontece depois dela e a nossa mente odeia incertezas e dúvidas, mas se voltarmos lá no começo vamos encontrar outro mistério mais saudável, nós mesmos. Não lembramos das nossas memórias de infância por causa de um fenômeno chamado “amnésia infantil” e ele precisa acontecer para que o nosso cérebro amadureça, mas logo nos seus primeiros anos de vida, já foram determinadas várias coisas que formaram o que você é hoje. Um escritor chamado Mark Twain disse “Não temo a morte, eu estive morto por bilhões e bilhões de anos antes de nascer, e isso não me causou o menor incômodo.” Houve uma época em que não existíamos.. Enquanto não abraçarmos o fato de que, em algum momento vamos morrer, não iremos conseguir aproveitar a nossa vida de uma forma sincera, porque estaremos sempre tentando fugir desse fato. Provavelmente nossa vida vai ser cheia de frustrações porque não a abraçamos, não vivemos com toda a nossa força e, quando ficarmos mais velhos, nossa mente começa a se lembrar de tudo o que não fizemos, teremos a sensação de que não aproveitamos nada porque estávamos presos de mais a algo que no fim provavelmente não valeu a pena, porque ficamos procrastinando o próprio ato de viver.